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Ata do Copom ditará pressões sobre o BC
A expectativa é de que o documento do Copom também reforce a perspectiva de crescimento menor da economia neste ano.
Todas as atenções do mercado financeiro estão voltadas hoje para a ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), na qual a taxa básica de juros (Selic) caiu 0,5 ponto percentual, de 12,50% para 12% ao ano. A surpresa com a decisão da autoridade monetária foi tamanha que, mesmo depois de sete dias, muitos ainda se perguntam o que realmente pesou para o corte da Selic. Foi pressão política ou realmente há aspectos técnicos que ninguém do mercado está vendo? Em um comunicado de duas páginas, sem precedentes na história do Copom, o BC alegou um agravamento na crise mundial, que levará os Estados Unidos e a Europa à recessão. Nesse contexto, a produção e o consumo no Brasil diminuirão, derrubando, por tabela, a inflação, que atingiu 7,23% nos 12 meses terminados em agosto, a maior em seis anos.
Os analistas estão convencidos de que a ata indicará mais cortes na Selic. Pelas projeções de Ilan Goldfajn, economista-chefe do Banco Itaú Unibanco, os juros cairão a 11% até o fim do ano. Ou seja, o BC promoverá mais dois cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões do Copom. Para Zeina Latif, economista sênior do Royal Bank of Scotland, o Comitê será um pouco mais comedido, com os juros chegando em dezembro a 11,25%. Há quem aposte, porém, que a Selic já estará abaixo de 10% no primeiro trimestre de 2012. É o caso do economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, que alerta para o risco de a inflação deste ano estourar o teto da meta, de 6,5%.
A expectativa é de que o documento do Copom também reforce a perspectiva de crescimento menor da economia neste ano. Oficialmente, o BC projeta expansão de 4% para o Produto Interno Bruto (PIB), mas já sinalizou como resultado mais provável um avanço de 3,5%, número que será sacramentado no relatório trimestral de inflação, com divulgação marcada para o fim deste mês. "Sabemos que todos estão de olho na ata do Copom. Mas é importante ter a certeza que o BC dará todas as explicações necessárias para dirimir qualquer dúvida sobre a queda da Selic. Não houve pressão política para o corte. Foi uma decisão técnica", disse um importante assessor do Palácio do Planalto.
Apesar de todas as justificativas do governo em defesa do BC, os analistas estão convencidos de que a autoridade monetária ampliou o horizonte de convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%. Alexandre Tombini, comandante da instituição, vem dizendo que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cairá sistematicamente para o objetivo definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) até o fim de 2012. Diante, porém, do que mostrou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última terça-feira — a inflação em disparada e os reajustes disseminados (64% do produtos e serviços apontaram alta) —, não há a menor possibilidade de o cenário traçado por ele se confirmar. Sobretudo porque os brasileiros estão se beneficiando do aumento da renda e aceitando pagar preços exorbitantes. No início do ano que vem, haverá a correção de 13,6% do salário mínimo, sustentando o consumo. E, do lado do governo, não há nenhuma sinalização efetiva de corte de despesas.